domingo, 29 de agosto de 2010

Carta do envelope preto


"Don't you know that I'll be around to guide you
Through your weakest moments to leave them behind you
Returning nightmares only shadows
We'll cast some light and you'll be alright
We'll cast some light and you'll be alright for now" 

Hoje completamos, eu e você, mais um daqueles dias de existência, existência simples, aquela que se percebe na mudança do calendário, aquela que percebemos no amadurecer dos olhos, no fim do equinócio, quando os dias eternos vão se fazendo mais claros e mais chuvosos aqui no sul, cada vez mais. Parece que foi outro dia quando tocou “Misread” na rádio do meu carro. Parece que foi outro dia que vi a 16ª curta do filme “Paris, je t'aime” e escutei estes versos: “Há momentos em que a vida exige mudanças. Transições, como as estações. Nossa primavera foi maravilhosa. Mas, agora o verão acabou. Perdemos o nosso outono e de repente está tão frio que tudo está congelando. Nosso amor hibernou e a neve nos surpreendeu.” Acho que foi “O Sonho” de Madredeus que me inspirou. Eu fico vendo sua seleção de músicas aleatórias e imaginando palavras. Como aquele dia no carro em que eu coloquei “Teardrop” pra você e depois você colocou “Korobushka” pra mim. Eu sei que poderia ter sido diferente. E se deu “tudo errado” foi de propósito. Olho pro céu e para as montanhas e vejo o temporal se aproximar. O vento e a brisa poderiam ter andado de mãos dadas por ai, mas foi de propósito. Sei que nada faz sentido e acho que não é mesmo pra fazer. “Há momentos em que a vida exige mudanças. Transições, como as estações.” Você insistiu. Esperei passar o tempo e o tempo não passou. É infinito. “Mas, agora o verão acabou.” Não sei ao certo o que você quis dizer com todas aquelas conversas. Só sei que atravessei a rua correndo e depois tive medo. Tivemos medo. “Perdemos o nosso outono e de repente está tão frio que tudo está congelando”, no silêncio. Talvez seja melhor assim. A noite chegou. “Nosso amor hibernou e a neve nos surpreendeu.” Adormecemos. Juntos. No sonho de Madredeus. E se não foi nada disso, foi significante o bastante para acelerar a respiração, viver dias intensos, caminhar ao sol, nos reinventar, sentir o amor, colorir sorrisos, experimentar novos momentos, sermos. Ao som de José González, “Crosses”, eu termino meus pensamentos...  14 de dezembro de 2009.

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