domingo, 25 de março de 2012

Sobre o mistério de escrever


«Mil anos que escrevas», disse,
«não saberás a quem.» 
                                              Maria Gabriela Llansol

Canção de outono

"O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...


Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...


Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma...
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!" - Quintana de Bolso, p. 28

sábado, 24 de março de 2012

Sobre o inesquecível

Do oitavo andar da Marquês do Herval uma guria ansiosa se maquiava enquanto observava a cidade verde anoitecer. O relógio já marcava 19h quando entraram no táxi rumo à  Livraria Cultura do Bourbon no Passo D'Areia. Não fosse pelo motorista indignado com a modernização da cidade, a brilhante ideia do que escrever nas dedicatórias não lhe teria vindo à tona: "Que o conteúdo faça valer as primeiras impressões do princípio ao fim!".  
No mezanino muitos não havia, mas havia muito do que era importante. Sorrisos, olhares, fotografias, encontros e reencontros, sempre com a caneta na mão. Ao escrever nos exemplares daqueles que estavam ali, e em outros de quem também não estava, pensava nas inúmeras mensagens de carinho recebidas ao longo da semana. Aquele momento era certamente um sonho "de verdade" e provocava emoções em grandes doses de realidade. 
Todo o resto, o "Parcão", a caminhada de 40 minutos até o Parque Farroupilha, a feirinha e a torrada com presunto e queijo no Brique da Redenção, a visita à Casa de Cultura Mário Quintana, a caminhada pelo centro da cidade, o almoço no Mercado Público, o sorvete na Banca 40, o passeio a céu aberto na Linha Turismo Roteiro Centro Histórico, a caminhada na pista da Usina do Gasômetro, o jantar no Shopping Moinhos de Vento, a noite na Padre Chagas, o banho de sol no tour da Zona Sul até o Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, o capuccino na Petites Délices, o retorno à Livraria Cultura antes do filme "As mulheres do 6 andar" no cinema do Bourbon, o almoço no self-service, o pôr-do-sol no passeio de barco pela orla do Guaíba, a aventura até a rua Cipó para o bauru e a cerveja da Coruja na "Chinelagem", vieram antes e depois, pra complementar o inesquecível de uma forma sem igual.*

*Porto Alegre, 16, 17, 18 e 19 de março de 2012. Lançamento do meu primeiro livro.


domingo, 11 de março de 2012

Sobre o tempo

“O que é o tempo? Um mistério: é imaterial e – onipotente. 
É uma condição do mundo exterior; 
é um movimento ligado e mesclado à existência dos corpos no espaço e à sua marcha. (...)
Pode-se narrar o tempo, o próprio tempo, o tempo como tal e em si?” Thomas Mann


"Que palavra sagaz, veloz o suficiente
é capaz de dizer deste presente
em que o corpo é mero invólucro de unidades produtivas
em que o pensamento só pensa o dia por cifras?" Luciana Toneli


"O que é ter tempo? 
O que é viver o tempo?
O tempo não é uma entidade fora do homem,
não é, tampouco, algo interior ao homem. 
O tempo é, originalmente, o seu poder-ser.
O tempo autêntico é viver no horizonte das possibilidades.
A dinâmica de vida não é demarcada pelo presente, pelo agora ou pela sucessão de instantes,
mas pelo que é possível realizar." Edson Cruz/Martin Heidegger


"Enquanto vivermos ainda estaremos envolvidos com as nossas possibilidades.
Nessa concepção, viver o tempo e ter tempo significam realizar, constantemente,
o que pode completar o nosso ser." Ibraim Vítor de Oliveira

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sobre o vazio

vazio é a ausência na presença
é a euforia sem cor
o fazer sem sentido
a alma sem porto
o belo sem gosto
é transbordar amor sem amor


é o destinatário sem remetente
a cegueira no clarão
é o possuir sem destino
é o vôo sem razão


é a indubitável vontade do imutável
é a invenção do querer que não se quer
a pretensão à incerteza interminável
a escravidão ao eu espelhado
e a espera eterna do que nunca será