terça-feira, 18 de dezembro de 2012

True Colors

Ainda menina, com seus 11 anos de idade, quis muito aprender a tocar True Colors. Teimou com a professora de teclado, treinou meses afinco e conseguiu tocá-la no recital do final do ano. Por muitos anos cantou essa música para si mesma, mas naquela manhã de verão ela havia recebido uma versão que a teria feito saber exatamente para quem cantar...


sábado, 15 de dezembro de 2012

Sobre os nossos Contos de Fadas

Das muitas experiências que a vida pode nos oferecer,
a descoberta do amor talvez seja a mais incrível delas...
E é então que renasce a eterna criança por vezes adormecida dentro de nós
para viver a noite dos sonhos dos nossos mais fantásticos contos de fadas!


"Deus nos fez família, nos fez amigos, nos fez irmãos. 
Ele nos fez vida, nos fez alegria, nos fez amor.
Nossas vidas são muito especiais com a presença de vocês, 
cada um com o seu jeito de ser e sua forma de nos amar.
São vocês que nos ensinam, que nos escutam e nos fortalecem. 
Somos parte de vocês e vocês parte de nós. 
Somos muito felizes em tê-los ao nosso lado e não poderíamos, 
em um momento tão feliz, 
deixar de chamá-los para serem nossos convidados de honra.
Inicia-se em nossas vidas uma nova fase, 
uma nova família está se formando! 
Nossa história já não se escreve só. 
Duas vidas, dois mundos que se unem em prol de um só objetivo: A Felicidade!
Amor, respeito, sonhos, esperanças, desejos e carinho 
são motivos de sobra para dividirmos o que temos de melhor. 
E é por isso que gostaríamos de compartilhar com Vocês um momento tão especial. 
Por isso, ficaremos eternamente felizes em dividir com pessoas tão importantes 
um pouco do nosso amor que hoje ilumina nossos corações." 

Priscila e Marlos, 15 de dezembro de 2012
Bom Despacho, Minas Gerais

"Meu Neném casou!"

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Caminhando nas nuvens

A cada bilhete de passagem comprado ela se perguntava: "Como transformar esse passeio na viagem dos meus sonhos?" Já havia planejado várias viagens e conhecido meio mundo, mas o que ela ainda não sabia é que as melhores viagens vinham embrulhadas em caixinhas de surpresas cheias de boas companhias. E aquela companhia, em especial, a teria proporcionado uma das viagens mais incríveis da sua vida! 

As estradas cobertas de hortências os levariam a um templo de orações. Chagdud Gonpa Khadro Ling encontrava-se lá no alto da montanha, em Três Coroas. Rinpoche não poderia ter escolhido lugar melhor. Espalhadas ao vento, todas aquelas palavras emanavam harmonia e felicidade. "Como não tornar-se uma pessoa melhor?" O Café colonial das Fadas e o café de verdade na livraria Miragem fizeram com que o lago de São Francisco de Paula fosse visto com outros olhos. Canela e Gramado teriam ficado pra trás, não fosse o quinteto de Natal e o lindo céu azul escuro ao anoitecer. Já não havia mais chimarrão. "Quem consegue adormecer vivendo o próprio sonho?" 

O amanhecer trouxe neblina e um pouco de frio, mas mesmo assim estaria lá lindo, o canyon Itaimbezinho. Araucárias, cachoeira e a trilha mais encantadora de todos os tempos! Uma Pizza retrô e Supertramp pro jantar. O vinho e Cambará do Sul para a noite mais fria. "Isso é um sonho ou é mesmo realidade?" Terceiro dia. Estrada de pedras. "Valeria à pena todo aquele esforço?" "Valeria!" Canyon Fortaleza. Deslumbre. Uma das sensações mais emocionantes do mundo! Inexplicável. Um caminhar nas nuvens. "Onde estaria a pedra do segredo?" "Nunca comi filé de truta. Quer polenta com queijo na chapa?"

Túneis. Imensidão. A serra gaúcha ia pouco a pouco ficando pra trás, até que o mar se fez marrom. Parapentes. As "torres" da praia da Guarita despentearam seus cabelos.  Anoitecer na beira da praia. "Por onde andam os pensamentos?" O longo caminho de volta ainda trouxe Capão da Canoa e Osório. Queda livre. Churrascaria do Centro de Tradições Gaúchas 35 CTG. Dança, chicote e bombachas. Fnac para dicas de leitura e café. Tentativas em vão de fazer um passeio de bike. Gasômetro e o apartamento mais aconchegante de Poa! Adaptação pela metade. Abraço. Desabafo. 

Das lições aprendidas no livro sobre a "impermanência" das coisas, uma certeza: um coração bom sempre atrairá outro tão bom quanto. *




*Viagem ao Rio Grande do Sul - 15 à 19 de novembro de 2012

sábado, 10 de novembro de 2012

Sobre a chuva e o ainda

A chuva cai de mansinho e eu coloco o braço pra fora do carro.
Sinto cada gota me tocar. Uma por uma.
As do céu e as dos meus olhos.
Então vem uma sensação repentina, 
uma alegria enorme por você ainda estar aqui. 
Por estarmos.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mrs. Cold

"When can I get it
When can I see
I step too close to your boundaries

You wanted nobody around to see
You feel vulnerable around me

Hey baby
What is love?
It was just a game
We both played and we cant get enough of"*
*Kings of  Convenience - Mrs. Cold

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sobre os nossos planos de fuga

De mãos dadas 
caminhando em direção às estrelas,
desbravaremos horizontes incertos
pra chegar àquela tão esperada sensação.

Inventaremos respostas para perguntas sem sentido
e levaremos nossas capas de chuva para as tempestades de verão

Arriscaremos.

Nossos esconderijos estarão à postos
nos vagões de trem descarrilhados.
Sob o efeito extremo das nossas paixões
seremos eternos estrategistas dos nossos segredos inusitados.

Aprenderemos a arte de colecionar neve.

E tudo o mais que já foi e se foi
se transformará em um livro de histórias,
histórias reais que sempre nos instigarão.

Amanheceremos.

Do alto da montanha
observaremos o oceano azul.
Teremos fugido das convenções disfarçadas,
das profundezas do ilusório,
das gerações espiritualmente abandonadas.

Simplificaremos.

E livremente, 
seremos.


sábado, 20 de outubro de 2012

CÃOZIM

"Que belo exemplar canino
me fita da rua de baixo.
Olha-me e as patas agita,
ou rói algo sobre o capacho.
Divisa-me e não me adivinha
(se sou da dor ou do escracho).

Mirá-lo me enternece,
sozinho, do balcãozinho,
olhando a noite que desce
encobridora do seu carinho.
(Tanto a dar e ali se deixa,
falto de atenção...)

Mas a tarde não está para queixas,
só sorrisos da janela.
E os tolos que, feito desfeita,
façam outra coisa dela."*

*Gabriel Nogueira Maia

domingo, 14 de outubro de 2012

Sobre a soma e o resto


Somar é fácil,
dividir é que é o problema.
Quase sempre que dividimos sobra o resto
e o resto que sobra
muitas vezes requer vários zeros e vírgulas
pra ser redividido.
Melhor seria se de toda divisão 
sobrassem sempre números inteiros.
Passaríamos a dividir mais 
e a somar menos...




sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Things we take for granted


"And while I was in the cab coming home I've come to realize what's so cool about travelling... I had been thinking for a while about why I like to travel and why I should embrace it as a hobby but had not reached any conclusion. You see, I thought of travelling and seeing buildings and places, and one can see buildings and places in one's home town, you don't need to travel for that. But then, in the cab, I saw many things I take for granted. I saw a hospital I take for granted, streets I take for granted, buildings I take for granted, and all this becomes kind of invisible, but everything becomes so amazing when you think about what the human capacity took to make everything you take for granted happen! And that's what's cool about travelling: you don't take anything for granted. You see new things and they're beautiful just because they're new for you. And there's more: you can see what other people take for granted, and in a way you realize that you can see the invisible." *



*Ruan Fernando Cardoso

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Sobre a sua solidão

Será que algum dia você vai deixar 
eu fazer parte da sua solidão?

Te prometo que seremos sozinhos juntos,
eu na minha 
e você na sua imensidão...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Para os dias frios


e ensolarados como o de hoje...*


"And then I looked up at the sky
And saw the sun
And the way that gravity pushes
On everyone" - Coldplay
*Ruan Fernando Cardoso

Sobre as leis da natureza


Se você não rega uma flor, ela morre. 
Assim também acontece com o amor.





quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sobre a efemeridade da vida


"You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped 
around your finger, ah, ha, ha.
Do you have to let it linger?
Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger?" 
The Cranberries

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Café expresso...

... e água mineral com gás. Dois copos de calma e simplicidade na mesma medida. Uma mistura que me ensinou, sem querer, a ter mais paciência, a ter uma rotina mais saudável, a questionar as verdades impostas, a respeitar o silêncio, a ter objetivos concretos, a querer planejar junto, a redescobrir meus valores, a dar mais importância àqueles que estão à minha volta, a ver significado nos filmes, a querer ser mais independente, a dormir cedo e amanhecer com o dia, a estar junto mesmo não estando perto, a ser eu mesma sem me preocupar. Isso tudo, somado ao vinho tinto, fez com que eu visse mais curvas nas montanhas de Minas, que eu contasse segredos no escuro e ficasse hipnotizada por um olhar de oceano, verdadeiro esconderijo de sentimentos e pensamentos...

... mas se não tiver água, nem vinho e nem expresso, a gente se vira com o café de bule, não é?*


"o caminho só existe 
quando você passa..." Skank

*Tiradentes, 21 de setembro de 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Notas de varal


notas escolhidas 
para uma estrada desconhecida
por onde talvez jamais viria a passar

notas escolhidas 
para uma despedida 
de alguém que talvez jamais viria a reencontrar

estavam ali presas 
por pequenos pregadores de madeira 
que tentavam mantê-las num único som

mas todas elas faziam sentido 
e se faziam sentir intensamente

pois do outro lado do varal havia uma menina 
que vez ou outra jogava as notas ao vento
fazendo de cada uma um sentimento, 
uma melodia de carrossel...



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Assincronia

"Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio; um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos outra meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras."

- Chico Buarque, Budapeste. *

Soundtrack: "Première Jeunesse". Filme: "Cinema Paradiso"

* Postado por Louise Pinheiro Ѽ no blog "Inconstância".
Link: http://inconstanciia.blogspot.com.br/2012/08/assincronia.html

sábado, 8 de setembro de 2012

Sobre a ausência



"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim." *

*Carlos Drummond de Andrade

sábado, 1 de setembro de 2012

Sobre Frida Kahlo


"Sua obra é ácida e terna. Dura como o aço e delicada como uma asa de borboleta. Adorável como um sorriso e cruel como a amargura da vida. Não acredito que alguma outra mulher tenha estampado tanta poesia sofrida em uma tela." *


"Eu gosto de histórias reais"
*Filme Frida (2002)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tibete

Lhasa era, para ela, um mundo inexistente. Distante, porém imponente, passou a fazer parte dos seus sonhos numa noite gelada de inverno. Aquela terra das neves, perdida na imensidão, tinha algo de misterioso, mágico, absoluto. Do alto dos Himalaias, uma caixinha de música lhe soprava histórias de um menino, um povo, uma crença, um homem e uma paixão. E ao anoitecer, sonhando,  parecia escutar o que de mais profundo havia marcado sua breve "visita" ao Tibete...



"Heinrich Harrer: In this place where time stands still it seems like everything is moving. Including me. I can't say I know where I'm going nor if my bad deeds can be purified. There are so many things I have done that I regret. But when I come to a full stop I hope you understand that the distance between us is not as great as it seems."
_______________________________________________________________________________

"Dalai Lama: I can't sleep. I'm afraid the dream might come back.
Heinrich Harrer: A couple of insomniacs.
Dalai Lama: Tell me a story, Heinrich. Tell me a story about climbing mountains.
Heinrich Harrer: That's one way to fall asleep. Those stories bore even me.
Dalai Lama: Then tell me what you love about it.
Heinrich Harrer: The absolute simplicity. That's what I love. When you're climbing your mind is clear and free from all confusions. You have focus. And suddenly the light becomes sharper, the sounds are richer and you're filled with the deep, powerful presence of life. I've only felt that one other time.
Dalai Lama: When?
Heinrich Harrer: In your presence, Kundun."*

*Seven Years in Tibet (1997)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Desconexão


Era a simples autenticidade dos dizeres
que fazia com que o longe ficasse perto.

Era a vontade da proximidade
que dava mais sentido ao desconhecido.

Embora infinitas desconexões existissem,
entre o que falavam e ouviam.

Um sinal?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vida longa...

Sua presença em forma de escrita
nessa nossa longa ausência cotidiana,
é feitiço que se quebra num estalo
e transforma suas palavras em varinhas de condão,
a cada inspiração desse caderno verde cor-de-coração,
pra me transportar até o que me é intangível, atemporal e instantâneo...

... e de cada verso faço um suspiro,
reflito, penso, me emociono, às vezes me emerjo, às vezes exito,
atravesso vales sombrios, montanhas cobertas de neve, campos de flores lilás...

... que o que alimenta minha imaginação
vem do âmago de um poeta-amigo ávido de pena e paixão,
que se descobre em pensamento e libertação a cada amanhecer.

Vida longa ao que lhe é essência, amigo. Bem longa...
... posto que as memórias, indubitavelmente,
já encontram-se cravadas no peito dos leitores de ontem, de hoje, de amanhã e de todo o sempre...



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Canção de inverno

um cobertor felpudo a envolve em pensamentos.

o vento sopra lá fora
e por entre as fendas da solidão,
alimentando suspiros. 
 
a penumbra do quarto 
constrói um labirinto de sonhos em seu coração
e então ela se perde em sentimentos.

percorre por horas afinco
caminhos sombrios, imperfeitos, desapercebidos.

desvenda mistérios, 
aquece a metade de si que sente calafrios,

para então adormecer
numa sutil canção de inverno...
"This is my winter song to you.
The storm is coming soon,
it rolls in from the sea

My voice; a beacon in the night.
My words will be your light,
to carry you to me.

Is love alive?" 
Sara Bareilles & Ingrid Michaelson

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre a vontade de tentar

"As I fall I leave a scar upon the sky
A simple note for you, I wait for your reply
And in your answer I regain my will to try" - Chris Cornell

domingo, 1 de julho de 2012

Sobre a tua voz

 
Tua voz me traz paz, me conforta,
me nina, me aquece,
preenche meus sonhos,
me faz sentir que adormeço em teus braços
a cada anoitecer...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre os meus heróis

Meus heróis são aqueles que acreditam,
que acrescentam, que cativam
e que fazem estremecer.
São aqueles que,
embora não estejam por perto o tempo todo,
me inspiram diariamente,
a cada novo desafio.
São aqueles que salvam corações,
que abrem mão do impossível
e atravessam oceanos
só pra ter certeza de que,
do esforço, virá um sorriso.
São aqueles que defendem um ideal
e lutam por ele até o fim.
São guardiões de valores e princípios,
são iluminados.

E por mais que os livros e os telejornais estejam cheios deles,
a maioria dos meus heróis estão escondidos por aí,
nas conversas de computador, nos corredores das escolas e universidades,
nos blogs e nas inúmeras mensagens de mural,
nas músicas enviadas de presente, nos sms de surpresa,
nos encontros nas cafeterias, nas festas de aniversário de família,
nas aulas de natação, nas salas de reunião com lanche e ar condicionado,
na porta do meu quarto, todos os dias antes de dormir...
"There goes my hero
Watch him as he goes
There goes my hero
He's ordinary" - Foo Fighters

domingo, 3 de junho de 2012

A menina má


          "Dois ou três meses depois de sua despedida, Salomón Toledano me escreveu uma longa carta. Estava muito contente com a temporada em Tóquio, embora o pessoal da Mitsubishi o fizesse trabalhar tanto que de noite desabava na cama, exausto. Mas tinha atualizado o seu japonês, conhecido gente simpática, e não sentia a menor falta da chuvosa Paris. Estava saindo com uma advogada da firma, divorciada e bonita, que não tinha pernas tortas como tantas japonesas, mas sim muito bem torneadas, e um olhar direto e profundo que "corroía a alma". "Não se preocupe, querido, continuo fiel à minha promessa e não vou me apaixonar por essa Jezabel nipônica. Mas, tirando a paixão, quero fazer com Mitsuko todo o resto." Abaixo de sua assinatura escreveu um lacônico pós-escrito: "Lembranças da menina má." Quando li esta frase, a carta do Trujimán caiu das minhas mãos e tive de me sentar, com vertigens.
          Então, ela estava no Japão? Como diabos foram se encontrar Salomón e a peruanita travessa na populosa Tóquio? Descartei a ideia de que ela fosse a advogada de olhar tenebroso por quem meu colega parecia caído, se bem que com a ex-chilenita, ex-guerrilheira, ex-madame Arnoux e ex-mrs. Richardson nada era impossível, nem mesmo que agora estivesse camuflada de advogada japonesa. Aquela história de "menina má" revelava que entre Salomón e ela existia certo grau de familiaridade; a chilenita devia ter contado a ele algo da nossa longa e sincopada relação. Será que fizeram amor? Percebi, nos dias seguintes, que o infortunado pós-escrito tinha alvoroçado a minha vida e reanimado o doentio e estúpido amor-paixão que me consumira durante tantos anos, não me deixando viver normalmente. No entanto, apesas das minhas dúvidas, ciúmes, interrogações angustiantes, o fato de saber que a menina má estava lá, real, viva, num lugar concreto, mesmo que tão longe de Paris, encheu minha cabeça de fantasias. Mais uma vez. Foi como sair do limbo em que vivia nos últimos quatro anos, desde que ela me telefonou do aeroporto Charles de Gaulle (ao menos foi o que disse) para dizer que estava fugindo da Inglaterra.
          Você continuava, então, apaixonado por sua imprevisível compatriota, Ricardo Somocurcio? Sem a menor dúvida. Desde o pós-escrito do Trujimán, noite e dia aquele rostinho moreno me aparecia, sem parar, com sua expressão insolente, os olhos cor de mel escuro, e todo o meu corpo ardia de desejo de tê-la nos braços." Páginas 167 e 168.


 "Por sua culpa, eu perdera as ilusões que fazem da existência algo mais do que uma soma de rotinas." Página 218, Mário Vargas Llosa - Travessuras da menina má

Sobre a amizade

"Você me faz bem,
me entende
e me faz parecer menos complicado do que sou..."

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Better than


"Because you could be better than that
Don't let it get the better of you
What could be better than now
Life's not about what's better than


There's things you can say
To the ones you're with
With whom you're spending your today
Get your gaze off tomorrow
And let come what may" - John Butler Trio



domingo, 13 de maio de 2012

Mamãe


Porque você me ensinou
que os passos pequenos
também podem nos levar ao longe;
que a elegância se consume na maçã;
que o bom humor, a gente acorda e dorme com ele
e que as festas nunca têm hora pra acabar.
Porque você me fez ver
que o moderno é bom e é chique,
que pra amizade não existe descompasso,
que o amor a gente constrói no diálogo
e que o sonho pega carona no avião. 
Porque você me amou
desde antes da minha existência
e faz todos os meus dias uma eterna alegria,
minha mãe, meu tudo, minha vida!
*Aniversário de 1 ano do meu irmão. Araçuaí, 1982.

FELIZ DIA DAS MÃES!!!


terça-feira, 8 de maio de 2012

Nightswimming


"Nightswimming
Remembering that night
September's coming soon
I'm pining for the moon
And what if there were two
Side by side in orbit
Around the fairest sun
The bright tide that ever drawn
Could not describe
Nightswimming" - R.E.M.

domingo, 29 de abril de 2012

Sobre flores e chocolate

Qualquer mulher daquele mundo adorava receber flores e chocolate de presente. Nem precisava ser tão romântica assim, já que convencionara-se que tal feito era sinal de carinho e importância. Ela, no entanto, apesar do coração leve, nunca gostara muito daquela ideia. De fato, nada tinha contra o chocolate, seu pecado cotidiano insaciável, mas as flores, essas lhe surtiam como um verdadeiro problema: exceto as flores de plástico, que nunca morrem, todas as outras tinham seus dias contados. E fora justamente num dia enluarado de abril que ganhara de aniversário um chocolate e uma "kalanchoe". A princípio, aquele presente lhe soara mais incrível do que nunca, mas ao chegar em casa deparou-se com a conhecida ilusão: "Essas flores, até quando?" Comera o chocolate em dois tempos e, de soslaio, todos os dias ia visitar a flor e a ilusão. Só que os dias foram passando, as estações mudando, e lá estava a flor, linda, sempre enfeitando seu dia. E de todas as flores, ela era a mais bela, delicada, às vezes lhe sorria. Passara, assim, a cuidar dela com mais apreço, e entendera, então, o significado de cada flor, por mais efêmera que fosse, e a intranquilidade do pequeno príncipe: para cada flor, uma razão. E particularmente em relação à "kalanchoe", de todas as flores do mundo, não existia outra que lhe trazia igual recordação. E desse dia em diante passou a admirar cada flor que encontrava pelo caminho, na tentativa, quase vã, de desvendar qual teria sido seu motivo e se teria, enfim, chegado ao seu destino...

sábado, 28 de abril de 2012

Ticket to fly

Ganhara uma passagem de avião. Ida e volta. Isso já havia um quê de extraordinário, mas a descoberta mais notável daquele presente veio durante a viagem: não havia ganhado apenas uma passagem para voar, mas sim, uma passagem para realizar um sonho, junto. E tão incrível quanto tornar real um sonho próprio, talvez seja  fazer parte da realização do sonho de alguém. Ainda mais se esse alguém se faz instantâneo e cotidiano em seu coração como nenhum outro alguém jamais pode fazer, que cada um é único. Do brilho nos olhos daquela noite a céu aberto e de todas as canções que nos soaram épicas e inéditas, back from the "Magical Mistery Tour", fica pra sempre a lembrança de ter sonhado "junto" ver, ao vivo, um dos eternos fab 4. 

Because "the love you take is equal to the love you make." *


E como um "plus" veio o contentamento de ter vivido isso tudo com essa fantástica "Band on the Run"!!!!


*Paul MacCartney - Recife, 21 de abril de 2012

domingo, 15 de abril de 2012

Sobre o silêncio

"Era uma noite clara, de lua. Os dois foram conversando até o Parque. Havia muito sobre o que conversar, como falavam! Devassavam as razões da existência, descobriam a natureza íntima das coisas, tentavam penetrar no mistério do ser.
    - Estamos imprensados entre estes dois acontecimentos: o nascimento e a morte. Temos apenas 60 anos para resolver o problema, talvez menos. 
    - Não há problemas: só há soluções.
    - Só há uma solução: morrer.
    - As nossas contradições. Vivemos segundo nossas emoções do momento, procurando localizar, descobrir uma constante e dizer: isso sou eu. 
    - Ninguém entende nada de nada.
Passaram pela ponte rústica, de madeira já podre, ganharam a ilha deserta, no meio do lago já seco. Havia uma touceira de arbustos, um banco de pedra, uma estátua de mármore pálida de lua. Sentaram-se no banco e se calaram, tentando entender o silêncio. As palavras tinham um sentido além delas mesmas. O silêncio seria, sempre, o único meio de entendimento perfeito. 
    - Eduardo.
    - O quê?
    - Estou com medo.
    - Eu também." - O Encontro Marcado, Fernando Sabino, páginas 92 e 93. 

domingo, 8 de abril de 2012

Sobre o "seu mundo"

Da sala de estar já se sentia seu cheiro, embora fosse, talvez, da cigarrilha. Depois de um corredor escuro e sombrio, lá se encontrava "seu mundo". Um emaranhado de letras e melodias, filmes e nostalgia em forma de retrato. Pinduricalhos, como alguém diria, um instrumento musical (não, dois!) e, claro, tecnologia (em uso e estragada!). Uma raquete de tênis empoeirada, uma caixa enfeitada (coisas de ex-namorada!), um cinzeiro. Livros, milhares, roubados, ganhados e comprados. O marcador no Kundera. Skol. Cama sem fazer. Uma cadeira vermelha, desenhos. Cds de invejar qualquer colecionador. Um ventilador aposentado, que só fez falta por algumas horas, poucas das quais estive ali. O entardecer na Carlos Gomes veio logo com a vontade da lua aparecer (a que não te encanta!). Surpresas embrulhadas: a caixinha azul ao acaso (ao acaso?!), dentro dela o poema. E o Encontro Marcado, cujas primeiras páginas leu pra mim, quase em devaneio, tamanha satisfação! Da falta de som de verdade veio a ideia da pizza no supermercado. Rocky Balboa no talo! Da janela viu-se cultura: procissão da Semana Santa. Também não faltou política. Foi quando eu te pedi pra apagar a luz. Ao som das músicas proibidas conversamos mais um pouco sobre nada. Sonho de adolescente realizado. Você de olhos fechados, eu a te observar. Não fora a madrugada adentrando serena, teria ficado ali por muito mais tempo... tempo todavia  insuficiente pra tudo que se deseja viver nesse "mundo de meia-tigela inteira"... 


"Se tu vens às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz." - Saint-Exupéry

terça-feira, 3 de abril de 2012

A menina da Montanha Mágica

Há trinta e três anos atrás uma menina de cabelos longos e lisos veio ao mundo pra ver o sol se pôr a cada entardecer. Veio colorir desenhos e rabiscar sentimentos, fazer sorrir a gente e fazer chorar também, que não tem jeito. Veio conhecer o amor, a dor, a fé e a solidão; cantar cantigas de ninar pra gente pequena, balançar num balanço de madeira, ler as ideias nos livros e escrever as suas. Veio pra correr montanhas, sentir cheiro de café vindo da cozinha, escutar as gargalhadas das tias costurando na sala, andar descalça pela casa, fazer fogueira em noite junina, conversar com alguém na penumbra. Veio conhecer o distante, falar línguas de outros povos, desentender o compasso do piano, apaixonar-se. Veio velejar em barcos escandinavos, brincar com a neve branquinha, pular em trampolins de alcançar as nuvens, passar noites em claro lendo e escutando melodias. Veio fazer-se e desfazer-se nas amizades, nos amores interinos e estrangeiros. Veio conhecer a estrada, os códigos e as leis, os sons das palavras não ditas, as doenças da alma. Veio sentir no paladar o gosto do sorvete de chocolate, da maçã do amor no parque, de pizza quentinha saindo do forno à lenha,  o gosto do amargo e da pequenez. Veio brincar de casinha debaixo de coqueiros, dançar balé no colégio, nadar no rio feito piaba, brincar de pique-esconde e amarelinha. Veio aprender a dirigir em alta velocidade, ser outras pessoas nas peças de teatro, bagunçar o quarto após cada arrumação. Veio ver filmes inventados, morar sob tetos desconhecidos, colecionar moedas num cofrinho com um sorriso. Veio ver as estrelas da varanda de casa, carregar caixas de leite até o armário, plantar árvores nos dias verdes, sonhar. Veio fazer não se sabe o quê, de tanta coisa! E dizem por aí que essa menina há muito habita a casa da Montanha Mágica, que adora tanto as visitas rotineiras quanto as inesperadas, que por lá gosta muito de contar estórias e que, a cada aniversário, faz um pedido secreto como sempre, mas à noite, deitada em seu travesseiro, fecha os olhos e revive seu mundo de faz-de-contas na eterna esperança de que aquilo se repita por muitos e muitos anos...

*Foto: aniversário de 3 anos em Araçuaí

domingo, 25 de março de 2012

Sobre o mistério de escrever


«Mil anos que escrevas», disse,
«não saberás a quem.» 
                                              Maria Gabriela Llansol

Canção de outono

"O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...


Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...


Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma...
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!" - Quintana de Bolso, p. 28

sábado, 24 de março de 2012

Sobre o inesquecível

Do oitavo andar da Marquês do Herval uma guria ansiosa se maquiava enquanto observava a cidade verde anoitecer. O relógio já marcava 19h quando entraram no táxi rumo à  Livraria Cultura do Bourbon no Passo D'Areia. Não fosse pelo motorista indignado com a modernização da cidade, a brilhante ideia do que escrever nas dedicatórias não lhe teria vindo à tona: "Que o conteúdo faça valer as primeiras impressões do princípio ao fim!".  
No mezanino muitos não havia, mas havia muito do que era importante. Sorrisos, olhares, fotografias, encontros e reencontros, sempre com a caneta na mão. Ao escrever nos exemplares daqueles que estavam ali, e em outros de quem também não estava, pensava nas inúmeras mensagens de carinho recebidas ao longo da semana. Aquele momento era certamente um sonho "de verdade" e provocava emoções em grandes doses de realidade. 
Todo o resto, o "Parcão", a caminhada de 40 minutos até o Parque Farroupilha, a feirinha e a torrada com presunto e queijo no Brique da Redenção, a visita à Casa de Cultura Mário Quintana, a caminhada pelo centro da cidade, o almoço no Mercado Público, o sorvete na Banca 40, o passeio a céu aberto na Linha Turismo Roteiro Centro Histórico, a caminhada na pista da Usina do Gasômetro, o jantar no Shopping Moinhos de Vento, a noite na Padre Chagas, o banho de sol no tour da Zona Sul até o Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, o capuccino na Petites Délices, o retorno à Livraria Cultura antes do filme "As mulheres do 6 andar" no cinema do Bourbon, o almoço no self-service, o pôr-do-sol no passeio de barco pela orla do Guaíba, a aventura até a rua Cipó para o bauru e a cerveja da Coruja na "Chinelagem", vieram antes e depois, pra complementar o inesquecível de uma forma sem igual.*

*Porto Alegre, 16, 17, 18 e 19 de março de 2012. Lançamento do meu primeiro livro.


domingo, 11 de março de 2012

Sobre o tempo

“O que é o tempo? Um mistério: é imaterial e – onipotente. 
É uma condição do mundo exterior; 
é um movimento ligado e mesclado à existência dos corpos no espaço e à sua marcha. (...)
Pode-se narrar o tempo, o próprio tempo, o tempo como tal e em si?” Thomas Mann


"Que palavra sagaz, veloz o suficiente
é capaz de dizer deste presente
em que o corpo é mero invólucro de unidades produtivas
em que o pensamento só pensa o dia por cifras?" Luciana Toneli


"O que é ter tempo? 
O que é viver o tempo?
O tempo não é uma entidade fora do homem,
não é, tampouco, algo interior ao homem. 
O tempo é, originalmente, o seu poder-ser.
O tempo autêntico é viver no horizonte das possibilidades.
A dinâmica de vida não é demarcada pelo presente, pelo agora ou pela sucessão de instantes,
mas pelo que é possível realizar." Edson Cruz/Martin Heidegger


"Enquanto vivermos ainda estaremos envolvidos com as nossas possibilidades.
Nessa concepção, viver o tempo e ter tempo significam realizar, constantemente,
o que pode completar o nosso ser." Ibraim Vítor de Oliveira

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sobre o vazio

vazio é a ausência na presença
é a euforia sem cor
o fazer sem sentido
a alma sem porto
o belo sem gosto
é transbordar amor sem amor


é o destinatário sem remetente
a cegueira no clarão
é o possuir sem destino
é o vôo sem razão


é a indubitável vontade do imutável
é a invenção do querer que não se quer
a pretensão à incerteza interminável
a escravidão ao eu espelhado
e a espera eterna do que nunca será

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Carta do Envelope Azul


E foi bem aqui da naus à deriva que num dia chuvoso de dezembro recebi as primeiras valiosas pílulas de nada... Compreender as “várias variáveis dos intertextos” me custou algumas horas de imaginação, e ainda assim o tudo que consegui entender sei que só eu entendo, dado que entender é pessoal.  O escritor não se encontrava tão perto e a leitora partiria em alguns dias, bem à tempo para o desencontro. “Encasmurrado” entre o mar e o que havia do outro lado da janela, o escritor se sentia cada vez mais perto de si, embora longe estivesse. Preferia a madrugada, a cerveja, saias escocesas, tatuagens, Engenheiros, era de leão. Prometeu “My blueberry nights”, músicas no violão, histórias da mãe que já não mais estava. E falou do Pessoa, do Machado, do Antunes, disse que era burocrata, mas estudava as “Letras” por opção. Usava expressões em inglês, em espanhol e em francês, mas tinha largado o alemão. Era viciado em chá-mate. Ia ao Rio para um show, depois para Buenos Aires, então voltava pra São Vicente, chegava em Belo Horizonte, tirava férias e pra Buenos ia novamente em Fevereiro. Fez lista de namoradas, enviou duas músicas suas, tocadas no violão. Não gosta de vinho, nem de “japa” e nem de jazz. Escreveu sobre a solidão. Usava óculos e barba. “Cabelos longos não usa mais”, como os do Gessinger, cujo livro se deu de presente de Natal. E sobre o matrimônio, não lhe agradava a ideia do “circo”, embora acreditasse na “União”, onde, por sinal, morava. Fez um convite para o “Dreams” do Cranberries e falou com muito carinho da “Junim” e da “Pulinha”. E quanto mais a leitora o lia, mais curiosa permanecia. Leu sobre o enlace dos pais, sobre a ida na padaria, sobre “chovendo por dentro, impossível por fora”, sobre os “desamantes latinos”, sobre “Mea Culpa” e o “Apostólico Passo”, sobre a enquete do “Genérico”: na marcha-ré, tantas palavras até março! O escritor não fuma, não cozinha, mas quer aprender (a cozinhar). Era Gary May, em 1997: “Just a matter of time”. A leitora então riu horrores do balzaco doido, que se queria feixe, mandava linha; se queria linha, mandava ponto. Era um exército de um homem só, no difícil exercício de viver em paz! Pediu à leitora um texto, cujas linhas tem em mãos. Era pra versar sobre a terra de Rachel de Queiroz, de Clóvis de Beviláqua e de José de Alencar, lá na pontinha do mapa, perto de onde Lula veio num pau-de-arara, terra da luz, terra do queijo qualho, das mulheres rendeiras, da maior rapadura do mundo, da cachaça ypióca, do humor nordestino, da carne de sol, da farinha, das casas de taipa, da macaxeira, das plantações de côco-anão, dos cajueiros, das redes nas varandas, das praias paradisíacas, das areias sem fim... 
Porém, a leitora, quando faz as malas, agora não escreve mais: sente, vê, experimenta. E lê. E leu um “bom selecionador do que merece reciclagem e incorporação.” E a leitora, em alguns momentos da viagem verdadeira, achou que estivesse em outra, parecida com aquelas estórias que, de tão interessantes, fingimos não ter chegado ainda ao seu final. O marcador fica em qualquer página, que quando algo lhe causa suspiros é porque merece ser relido. Releu várias vezes o Gabriel e resolveu que as pré-primeiras impressões mereciam mais linhas. Travar conhecimento, agora, valia mais do que uma mera noite de autógrafos... *
* Belo Horizonte, 09 de janeiro de 2010