E
foi bem aqui da naus à deriva que num dia chuvoso de dezembro recebi
as primeiras valiosas pílulas de nada... Compreender as “várias
variáveis dos intertextos” me custou algumas horas de imaginação,
e ainda assim o tudo que consegui entender sei que só eu entendo,
dado que entender é pessoal. O escritor não se encontrava tão
perto e a leitora partiria em alguns dias, bem à tempo para o
desencontro. “Encasmurrado” entre o mar e o que havia do outro
lado da janela, o escritor se sentia cada vez mais perto de si,
embora longe estivesse. Preferia a madrugada, a cerveja, saias
escocesas, tatuagens, Engenheiros, era de leão. Prometeu “My
blueberry nights”, músicas no violão, histórias da mãe que já
não mais estava. E falou do Pessoa, do Machado, do Antunes, disse
que era burocrata, mas estudava as “Letras” por opção. Usava
expressões em inglês, em espanhol e em francês, mas tinha largado
o alemão. Era viciado em chá-mate. Ia ao Rio para um show, depois
para Buenos Aires, então voltava pra São Vicente, chegava em Belo
Horizonte, tirava férias e pra Buenos ia novamente em Fevereiro. Fez
lista de namoradas, enviou duas músicas suas, tocadas no violão.
Não gosta de vinho, nem de “japa” e nem de jazz. Escreveu sobre
a solidão. Usava óculos e barba. “Cabelos longos não usa mais”,
como os do Gessinger, cujo livro se deu de presente de Natal. E sobre
o matrimônio, não lhe agradava a ideia do “circo”, embora
acreditasse na “União”, onde, por sinal, morava. Fez um convite
para o “Dreams” do Cranberries e falou com muito carinho da
“Junim” e da “Pulinha”. E quanto mais a leitora o lia, mais
curiosa permanecia. Leu sobre o enlace dos pais, sobre a ida na
padaria, sobre “chovendo por dentro, impossível por fora”, sobre
os “desamantes latinos”, sobre “Mea Culpa” e o “Apostólico
Passo”, sobre a enquete do “Genérico”: na marcha-ré, tantas
palavras até março! O escritor não fuma, não cozinha, mas quer
aprender (a cozinhar). Era Gary May, em 1997: “Just a matter of
time”. A leitora então riu horrores do balzaco doido, que se
queria feixe, mandava linha; se queria linha, mandava ponto. Era um
exército de um homem só, no difícil exercício de viver em paz!
Pediu à leitora um texto, cujas linhas tem em mãos. Era pra versar
sobre a terra de Rachel de Queiroz, de Clóvis de Beviláqua e de
José de Alencar, lá na pontinha do mapa, perto de onde Lula veio
num pau-de-arara, terra da luz, terra do queijo qualho, das mulheres
rendeiras, da maior rapadura do mundo, da cachaça ypióca, do humor
nordestino, da carne de sol, da farinha, das casas de taipa, da
macaxeira, das plantações de côco-anão, dos cajueiros, das redes
nas varandas, das praias paradisíacas, das areias sem fim...
Porém,
a leitora, quando faz as malas, agora não escreve mais: sente, vê,
experimenta. E lê. E leu um “bom selecionador do que merece
reciclagem e incorporação.” E a leitora, em alguns momentos da
viagem verdadeira, achou que estivesse em outra, parecida com aquelas
estórias que, de tão interessantes, fingimos não ter chegado ainda
ao seu final. O marcador fica em qualquer página, que quando algo
lhe causa suspiros é porque merece ser relido. Releu várias vezes o
Gabriel e resolveu que as pré-primeiras impressões mereciam mais
linhas. Travar conhecimento, agora, valia mais do que uma mera noite
de autógrafos... *
* Belo Horizonte, 09 de janeiro de 2010
Aeeeee! Perdeu muito quem não recebeu MISSivas assim! Cada bobagem de que ensaiava me arrepender tão logo grafada, tão boba me parecia, reabilito se me valeram ser o destinatário de algo assim.
ResponderExcluir"Destinatário"! Curiosa palavra! E que remetente sou? Sem bandeira, mas às vezes acho que com mais fronteiras pra defender do que convinha! Talvez melhor abandoná-las a alguma invasão. Isso me têm dito e por isso me têm espoliado. Mas não você!
Quer saber? A membrana mal se presta a fronteira. Mas é seletiva! É seletiva! E serve a benvir os bons! E só saem os que querem. Cada um tem seu tempo. Que tempo é também tão... Pessoal!? Pessoal?!
"Não larga da minha mão.
Eu sou o que vocês são..."
Um dia ainda escrevo sobre o rapazito (não sei se tão jussarês)! Mas, já que não ando permutando, né?! melhor mesmo é fazer do silêncio ouro -que é mesmo o que ele vale quando há tiroteio nada epistolar - e guardá-lo em meu paletó! Belas palavras! Belo texto! Belas gabrielices!
ResponderExcluir[Do primeiro andar da faculdade deixo este! Descendo da Montanha, subo, pois há aula! A magia fica, que é de vocês!
Beijocas!
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