domingo, 5 de junho de 2011

A "descolecionadora" de símbolos


Descolecionava símbolos...
negativos de máquinas instantâneas,
cartões em papel craft manchado,
etiquetas de roupas velhas e desbotadas,
canetas marca-texto usadas,
caixas com recibos de contas vencidas,
cartas de amor que guardavam rosas amareladas,
descompassos de um instrumento de corda,
pequenas velas apagadas,
listas repicadas de afazeres,
miniaturas de souvenirs quebrados,
sacolas plásticas dobradas,
a liquidez dos relacionamentos ao avesso,
fragmentos de desejos não realizados...


E aos poucos começava a colecionar sensações...
o quentinho do cobertor numa noite fria,
o cheiro da chuva quando começa a cair,
o sentimento de conquista do mundo, ao pisar em terras desconhecidas,
os suspiros a cada reencontro marcado,
o alcance do olhar na roda-gigante,
o frio na barriga ao entrar num avião,
a satisfação ao terminar de ler um livro bom,
os pés descalços tocando a areia na praia,
a alegria ao ganhar uma caixinha de música,
o som de um violino no parque, numa manhã de domingo,
os passos de uma bailarina no palco,
o brilho do pôr-do-sol avermelhado do inverno,
as cores de um jardim na primavera,
o cheiro de pizza saindo do forno à lenha,
os olhos fechados ao escutar uma música nos fones de ouvido,
os zumbidos de bicho no mato à noite,
o sabor do café sendo coado de manhãzinha,
a mordida num chocolate meio-amargo,
os sinos do vento das janelas laterais,
a vista da varanda do quarto da casa ao lado,
o sopro do vento no rosto, em uma tarde ensolarada de verão,
as risadas das crianças correndo no parquinho,
um cãozinho abanando o rabo, pedindo carinho,
o aconchego do abraço apertado e verdadeiro de um amigo,
os aplausos depois da poesia em prosa,
o pulsar do coração a cada beijo apaixonado,
o som da cachoeira escondida entre as árvores,
a vista estonteante lá do alto da montanha...
... e outras sensações mil...


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