segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre os meus heróis

Meus heróis são aqueles que acreditam,
que acrescentam, que cativam
e que fazem estremecer.
São aqueles que,
embora não estejam por perto o tempo todo,
me inspiram diariamente,
a cada novo desafio.
São aqueles que salvam corações,
que abrem mão do impossível
e atravessam oceanos
só pra ter certeza de que,
do esforço, virá um sorriso.
São aqueles que defendem um ideal
e lutam por ele até o fim.
São guardiões de valores e princípios,
são iluminados.

E por mais que os livros e os telejornais estejam cheios deles,
a maioria dos meus heróis estão escondidos por aí,
nas conversas de computador, nos corredores das escolas e universidades,
nos blogs e nas inúmeras mensagens de mural,
nas músicas enviadas de presente, nos sms de surpresa,
nos encontros nas cafeterias, nas festas de aniversário de família,
nas aulas de natação, nas salas de reunião com lanche e ar condicionado,
na porta do meu quarto, todos os dias antes de dormir...
"There goes my hero
Watch him as he goes
There goes my hero
He's ordinary" - Foo Fighters

domingo, 3 de junho de 2012

A menina má


          "Dois ou três meses depois de sua despedida, Salomón Toledano me escreveu uma longa carta. Estava muito contente com a temporada em Tóquio, embora o pessoal da Mitsubishi o fizesse trabalhar tanto que de noite desabava na cama, exausto. Mas tinha atualizado o seu japonês, conhecido gente simpática, e não sentia a menor falta da chuvosa Paris. Estava saindo com uma advogada da firma, divorciada e bonita, que não tinha pernas tortas como tantas japonesas, mas sim muito bem torneadas, e um olhar direto e profundo que "corroía a alma". "Não se preocupe, querido, continuo fiel à minha promessa e não vou me apaixonar por essa Jezabel nipônica. Mas, tirando a paixão, quero fazer com Mitsuko todo o resto." Abaixo de sua assinatura escreveu um lacônico pós-escrito: "Lembranças da menina má." Quando li esta frase, a carta do Trujimán caiu das minhas mãos e tive de me sentar, com vertigens.
          Então, ela estava no Japão? Como diabos foram se encontrar Salomón e a peruanita travessa na populosa Tóquio? Descartei a ideia de que ela fosse a advogada de olhar tenebroso por quem meu colega parecia caído, se bem que com a ex-chilenita, ex-guerrilheira, ex-madame Arnoux e ex-mrs. Richardson nada era impossível, nem mesmo que agora estivesse camuflada de advogada japonesa. Aquela história de "menina má" revelava que entre Salomón e ela existia certo grau de familiaridade; a chilenita devia ter contado a ele algo da nossa longa e sincopada relação. Será que fizeram amor? Percebi, nos dias seguintes, que o infortunado pós-escrito tinha alvoroçado a minha vida e reanimado o doentio e estúpido amor-paixão que me consumira durante tantos anos, não me deixando viver normalmente. No entanto, apesas das minhas dúvidas, ciúmes, interrogações angustiantes, o fato de saber que a menina má estava lá, real, viva, num lugar concreto, mesmo que tão longe de Paris, encheu minha cabeça de fantasias. Mais uma vez. Foi como sair do limbo em que vivia nos últimos quatro anos, desde que ela me telefonou do aeroporto Charles de Gaulle (ao menos foi o que disse) para dizer que estava fugindo da Inglaterra.
          Você continuava, então, apaixonado por sua imprevisível compatriota, Ricardo Somocurcio? Sem a menor dúvida. Desde o pós-escrito do Trujimán, noite e dia aquele rostinho moreno me aparecia, sem parar, com sua expressão insolente, os olhos cor de mel escuro, e todo o meu corpo ardia de desejo de tê-la nos braços." Páginas 167 e 168.


 "Por sua culpa, eu perdera as ilusões que fazem da existência algo mais do que uma soma de rotinas." Página 218, Mário Vargas Llosa - Travessuras da menina má

Sobre a amizade

"Você me faz bem,
me entende
e me faz parecer menos complicado do que sou..."

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Better than


"Because you could be better than that
Don't let it get the better of you
What could be better than now
Life's not about what's better than


There's things you can say
To the ones you're with
With whom you're spending your today
Get your gaze off tomorrow
And let come what may" - John Butler Trio



domingo, 13 de maio de 2012

Mamãe


Porque você me ensinou
que os passos pequenos
também podem nos levar ao longe;
que a elegância se consume na maçã;
que o bom humor, a gente acorda e dorme com ele
e que as festas nunca têm hora pra acabar.
Porque você me fez ver
que o moderno é bom e é chique,
que pra amizade não existe descompasso,
que o amor a gente constrói no diálogo
e que o sonho pega carona no avião. 
Porque você me amou
desde antes da minha existência
e faz todos os meus dias uma eterna alegria,
minha mãe, meu tudo, minha vida!
*Aniversário de 1 ano do meu irmão. Araçuaí, 1982.

FELIZ DIA DAS MÃES!!!


terça-feira, 8 de maio de 2012

Nightswimming


"Nightswimming
Remembering that night
September's coming soon
I'm pining for the moon
And what if there were two
Side by side in orbit
Around the fairest sun
The bright tide that ever drawn
Could not describe
Nightswimming" - R.E.M.

domingo, 29 de abril de 2012

Sobre flores e chocolate

Qualquer mulher daquele mundo adorava receber flores e chocolate de presente. Nem precisava ser tão romântica assim, já que convencionara-se que tal feito era sinal de carinho e importância. Ela, no entanto, apesar do coração leve, nunca gostara muito daquela ideia. De fato, nada tinha contra o chocolate, seu pecado cotidiano insaciável, mas as flores, essas lhe surtiam como um verdadeiro problema: exceto as flores de plástico, que nunca morrem, todas as outras tinham seus dias contados. E fora justamente num dia enluarado de abril que ganhara de aniversário um chocolate e uma "kalanchoe". A princípio, aquele presente lhe soara mais incrível do que nunca, mas ao chegar em casa deparou-se com a conhecida ilusão: "Essas flores, até quando?" Comera o chocolate em dois tempos e, de soslaio, todos os dias ia visitar a flor e a ilusão. Só que os dias foram passando, as estações mudando, e lá estava a flor, linda, sempre enfeitando seu dia. E de todas as flores, ela era a mais bela, delicada, às vezes lhe sorria. Passara, assim, a cuidar dela com mais apreço, e entendera, então, o significado de cada flor, por mais efêmera que fosse, e a intranquilidade do pequeno príncipe: para cada flor, uma razão. E particularmente em relação à "kalanchoe", de todas as flores do mundo, não existia outra que lhe trazia igual recordação. E desse dia em diante passou a admirar cada flor que encontrava pelo caminho, na tentativa, quase vã, de desvendar qual teria sido seu motivo e se teria, enfim, chegado ao seu destino...

sábado, 28 de abril de 2012

Ticket to fly

Ganhara uma passagem de avião. Ida e volta. Isso já havia um quê de extraordinário, mas a descoberta mais notável daquele presente veio durante a viagem: não havia ganhado apenas uma passagem para voar, mas sim, uma passagem para realizar um sonho, junto. E tão incrível quanto tornar real um sonho próprio, talvez seja  fazer parte da realização do sonho de alguém. Ainda mais se esse alguém se faz instantâneo e cotidiano em seu coração como nenhum outro alguém jamais pode fazer, que cada um é único. Do brilho nos olhos daquela noite a céu aberto e de todas as canções que nos soaram épicas e inéditas, back from the "Magical Mistery Tour", fica pra sempre a lembrança de ter sonhado "junto" ver, ao vivo, um dos eternos fab 4. 

Because "the love you take is equal to the love you make." *


E como um "plus" veio o contentamento de ter vivido isso tudo com essa fantástica "Band on the Run"!!!!


*Paul MacCartney - Recife, 21 de abril de 2012

domingo, 15 de abril de 2012

Sobre o silêncio

"Era uma noite clara, de lua. Os dois foram conversando até o Parque. Havia muito sobre o que conversar, como falavam! Devassavam as razões da existência, descobriam a natureza íntima das coisas, tentavam penetrar no mistério do ser.
    - Estamos imprensados entre estes dois acontecimentos: o nascimento e a morte. Temos apenas 60 anos para resolver o problema, talvez menos. 
    - Não há problemas: só há soluções.
    - Só há uma solução: morrer.
    - As nossas contradições. Vivemos segundo nossas emoções do momento, procurando localizar, descobrir uma constante e dizer: isso sou eu. 
    - Ninguém entende nada de nada.
Passaram pela ponte rústica, de madeira já podre, ganharam a ilha deserta, no meio do lago já seco. Havia uma touceira de arbustos, um banco de pedra, uma estátua de mármore pálida de lua. Sentaram-se no banco e se calaram, tentando entender o silêncio. As palavras tinham um sentido além delas mesmas. O silêncio seria, sempre, o único meio de entendimento perfeito. 
    - Eduardo.
    - O quê?
    - Estou com medo.
    - Eu também." - O Encontro Marcado, Fernando Sabino, páginas 92 e 93.