terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tibete

Lhasa era, para ela, um mundo inexistente. Distante, porém imponente, passou a fazer parte dos seus sonhos numa noite gelada de inverno. Aquela terra das neves, perdida na imensidão, tinha algo de misterioso, mágico, absoluto. Do alto dos Himalaias, uma caixinha de música lhe soprava histórias de um menino, um povo, uma crença, um homem e uma paixão. E ao anoitecer, sonhando,  parecia escutar o que de mais profundo havia marcado sua breve "visita" ao Tibete...



"Heinrich Harrer: In this place where time stands still it seems like everything is moving. Including me. I can't say I know where I'm going nor if my bad deeds can be purified. There are so many things I have done that I regret. But when I come to a full stop I hope you understand that the distance between us is not as great as it seems."
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"Dalai Lama: I can't sleep. I'm afraid the dream might come back.
Heinrich Harrer: A couple of insomniacs.
Dalai Lama: Tell me a story, Heinrich. Tell me a story about climbing mountains.
Heinrich Harrer: That's one way to fall asleep. Those stories bore even me.
Dalai Lama: Then tell me what you love about it.
Heinrich Harrer: The absolute simplicity. That's what I love. When you're climbing your mind is clear and free from all confusions. You have focus. And suddenly the light becomes sharper, the sounds are richer and you're filled with the deep, powerful presence of life. I've only felt that one other time.
Dalai Lama: When?
Heinrich Harrer: In your presence, Kundun."*

*Seven Years in Tibet (1997)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Desconexão


Era a simples autenticidade dos dizeres
que fazia com que o longe ficasse perto.

Era a vontade da proximidade
que dava mais sentido ao desconhecido.

Embora infinitas desconexões existissem,
entre o que falavam e ouviam.

Um sinal?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vida longa...

Sua presença em forma de escrita
nessa nossa longa ausência cotidiana,
é feitiço que se quebra num estalo
e transforma suas palavras em varinhas de condão,
a cada inspiração desse caderno verde cor-de-coração,
pra me transportar até o que me é intangível, atemporal e instantâneo...

... e de cada verso faço um suspiro,
reflito, penso, me emociono, às vezes me emerjo, às vezes exito,
atravesso vales sombrios, montanhas cobertas de neve, campos de flores lilás...

... que o que alimenta minha imaginação
vem do âmago de um poeta-amigo ávido de pena e paixão,
que se descobre em pensamento e libertação a cada amanhecer.

Vida longa ao que lhe é essência, amigo. Bem longa...
... posto que as memórias, indubitavelmente,
já encontram-se cravadas no peito dos leitores de ontem, de hoje, de amanhã e de todo o sempre...



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Canção de inverno

um cobertor felpudo a envolve em pensamentos.

o vento sopra lá fora
e por entre as fendas da solidão,
alimentando suspiros. 
 
a penumbra do quarto 
constrói um labirinto de sonhos em seu coração
e então ela se perde em sentimentos.

percorre por horas afinco
caminhos sombrios, imperfeitos, desapercebidos.

desvenda mistérios, 
aquece a metade de si que sente calafrios,

para então adormecer
numa sutil canção de inverno...
"This is my winter song to you.
The storm is coming soon,
it rolls in from the sea

My voice; a beacon in the night.
My words will be your light,
to carry you to me.

Is love alive?" 
Sara Bareilles & Ingrid Michaelson

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre a vontade de tentar

"As I fall I leave a scar upon the sky
A simple note for you, I wait for your reply
And in your answer I regain my will to try" - Chris Cornell

domingo, 1 de julho de 2012

Sobre a tua voz

 
Tua voz me traz paz, me conforta,
me nina, me aquece,
preenche meus sonhos,
me faz sentir que adormeço em teus braços
a cada anoitecer...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre os meus heróis

Meus heróis são aqueles que acreditam,
que acrescentam, que cativam
e que fazem estremecer.
São aqueles que,
embora não estejam por perto o tempo todo,
me inspiram diariamente,
a cada novo desafio.
São aqueles que salvam corações,
que abrem mão do impossível
e atravessam oceanos
só pra ter certeza de que,
do esforço, virá um sorriso.
São aqueles que defendem um ideal
e lutam por ele até o fim.
São guardiões de valores e princípios,
são iluminados.

E por mais que os livros e os telejornais estejam cheios deles,
a maioria dos meus heróis estão escondidos por aí,
nas conversas de computador, nos corredores das escolas e universidades,
nos blogs e nas inúmeras mensagens de mural,
nas músicas enviadas de presente, nos sms de surpresa,
nos encontros nas cafeterias, nas festas de aniversário de família,
nas aulas de natação, nas salas de reunião com lanche e ar condicionado,
na porta do meu quarto, todos os dias antes de dormir...
"There goes my hero
Watch him as he goes
There goes my hero
He's ordinary" - Foo Fighters

domingo, 3 de junho de 2012

A menina má


          "Dois ou três meses depois de sua despedida, Salomón Toledano me escreveu uma longa carta. Estava muito contente com a temporada em Tóquio, embora o pessoal da Mitsubishi o fizesse trabalhar tanto que de noite desabava na cama, exausto. Mas tinha atualizado o seu japonês, conhecido gente simpática, e não sentia a menor falta da chuvosa Paris. Estava saindo com uma advogada da firma, divorciada e bonita, que não tinha pernas tortas como tantas japonesas, mas sim muito bem torneadas, e um olhar direto e profundo que "corroía a alma". "Não se preocupe, querido, continuo fiel à minha promessa e não vou me apaixonar por essa Jezabel nipônica. Mas, tirando a paixão, quero fazer com Mitsuko todo o resto." Abaixo de sua assinatura escreveu um lacônico pós-escrito: "Lembranças da menina má." Quando li esta frase, a carta do Trujimán caiu das minhas mãos e tive de me sentar, com vertigens.
          Então, ela estava no Japão? Como diabos foram se encontrar Salomón e a peruanita travessa na populosa Tóquio? Descartei a ideia de que ela fosse a advogada de olhar tenebroso por quem meu colega parecia caído, se bem que com a ex-chilenita, ex-guerrilheira, ex-madame Arnoux e ex-mrs. Richardson nada era impossível, nem mesmo que agora estivesse camuflada de advogada japonesa. Aquela história de "menina má" revelava que entre Salomón e ela existia certo grau de familiaridade; a chilenita devia ter contado a ele algo da nossa longa e sincopada relação. Será que fizeram amor? Percebi, nos dias seguintes, que o infortunado pós-escrito tinha alvoroçado a minha vida e reanimado o doentio e estúpido amor-paixão que me consumira durante tantos anos, não me deixando viver normalmente. No entanto, apesas das minhas dúvidas, ciúmes, interrogações angustiantes, o fato de saber que a menina má estava lá, real, viva, num lugar concreto, mesmo que tão longe de Paris, encheu minha cabeça de fantasias. Mais uma vez. Foi como sair do limbo em que vivia nos últimos quatro anos, desde que ela me telefonou do aeroporto Charles de Gaulle (ao menos foi o que disse) para dizer que estava fugindo da Inglaterra.
          Você continuava, então, apaixonado por sua imprevisível compatriota, Ricardo Somocurcio? Sem a menor dúvida. Desde o pós-escrito do Trujimán, noite e dia aquele rostinho moreno me aparecia, sem parar, com sua expressão insolente, os olhos cor de mel escuro, e todo o meu corpo ardia de desejo de tê-la nos braços." Páginas 167 e 168.


 "Por sua culpa, eu perdera as ilusões que fazem da existência algo mais do que uma soma de rotinas." Página 218, Mário Vargas Llosa - Travessuras da menina má