sábado, 25 de setembro de 2010

O mar

“Vou ficar”, pensou Aschenbach. “Onde poderia estar melhor?” E com as mãos cruzadas no colo deixou os olhos se perderem na vastidão do mar, deixou seu olhar resvalar, anuviar-se, fragmentar-se na monotonia unicolor da imensidão deserta. Amava o mar por razões profundas: pela necessidade de repouso do artista exausto que, assediado pela multiformidade das aparências, anseia por abrigar-se no seio da simplicidade, da imensidão, e por um pendor proibido, diametralmente oposto à sua tarefa e por isso mesmo tentador, para o indiviso, o desmedido, o eterno, para o nada. Repousar na perfeição é o anseio nostálgico daquele que se esforça por alcançar a excelência; e o nada não é uma forma de perfeição?”  

Thomas Mann – Morte em Veneza, página 48

 Rio, março de 2010

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