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quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre "A elegância"



"É possível ser tão dotado e tão cego diante da presença das coisas? (...) Parece que sim. Certas pessoas são incapazes de captar no que contemplam o que dá a essas coisas a vida e o sopro intrínsecos, e passam o tempo a discorrer sobre os homens como se se tratasse de autômatos, e sobre as coisas como se não tivessem alma e se resumissem ao que pode ser dito sobre elas, ao sabor das inspirações subjetivas."

"A elegância do ouriço" de Muriel Barbery, pág. 32.





"uma estrada, um campo coberto de flores, um carro, o vento e uma janela aberta..."

domingo, 12 de setembro de 2010

Memória de Elefante

     "O Hospital em que trabalhava era o mesmo a que muitas vezes na infância acompanhara o pai: antigo convento de relógio de junta de freguesia na fachada, pátio de plátanos oxidados, doentes de uniforme vagabundeando ao acaso tontos de calmantes, o sorriso gordo do porteiro a arrebitar os beiços para cima como se fosse voar: de tempos a tempos, metamorfoseado em cobrador, aquele Júpiter de sucessivas faces sugia-lhe à esquina da enfermaria de pasta de plástico no sovaco a estender um papelucho imperativo e suplicante:
       - A quotazinha da Sociedade, senhor doutor.
     Puta que pariu os psiquiatras organizados em esquadra de polícia, pensava sempre ao procurar os cem escudos na complicação da carteira, puta que pariu o Grande Oriente da Psichiatria, dos etiquetadores pomposos do sofrimento, dos chonés da única sórdida forma de maluquice que consiste em vigiar e perseguir a liberdade da loucura alheia defendidos pelo Código Penal dos tratados, puta que pariu a Arte da Catalogação Da Angústia, puta que me pariu a mim, rematava ele ao embolsar o rectângulo impresso, que colaboro, pagando, com isso, em lugar de espalhar bombas nos baldes dos pensos e nas gavetas das secretárias dos médicos para fazer explodir, num cogumelo atómico triunfante, cento e vinte e cinco anos de idiotia pinamaniquesca." 
                              António Lobo Antunes - "Memória de Elefante" p. 9 e 10

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Coragem

"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa